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quarta-feira, 13 de julho de 2011


PoesiaVida de Caserna

Algacyr Costa
gentileza de Rogerio Antonio Teixeira

Foi lá por sessenta e três
Lembrarei pra sempre irmão,
Eu "bem louco pra servir"
Ser pracinha da nação
Aí seria mais homem
No pensamento de então.

Lá no "primeiro do vinte"
Cheguei de manhã bem cedo
Era em casa Passo Fundo
Hoje conto sem segredo
Fui chegando pro portão
Num alvoroço sem medo
Lá dentro se era escolhido
Quase que a ponta de dedo

Lindo toque da alvorada
O clarim me despertava
Depois de arrumar a camita
Para o rancho nós rumava.
Entrava em forma e na fila
Porque a ordem decretava
Cada um com seu copito
O desjejum preparava.

Nós chegamos de "a paisano"
Fica uns dias desse jeito
"Levamo" a primeira "tosa"
Todo mundo satisfeito
Fiquei com a "pinha" alumiando
Num cadete bem mal feito
Pois cabeça de milico
No quartel não impõe respeito.

Foi como um grande rodeio
Veio logo a apartação
Fui o "cento e trinta e três"
Do terceiro pelotão
E vieram me perguntando
Qual ofício ou profissão,
Burocrata ou diplomado
Ia logo pra seção.

Logo "aprendemo" a entrar em forma
Para a primeira instrução
De sentido e descansar
A segurar o mosquetão
A marchar enfileirado
Pelo pátio do esquadrão
Aquilo mais alinhado
Do que teta de leitão

Bem logo veio a faxina
Que nos mandou o capitão
Pra tirar grama das pedras
Com ferros de rasquiação
Uns "pintava" outros "lavava"
E todos tinham função
Na hora que tocou o rancho
Alegrou meu coração.

Vai uns "mês" pra "passar a pronto"
Sempre à baixo de instrução:
Desmonta metralhadora
Mexe em sabre e mosquetão
Tira serviço na guarda
-Cavalariça ou plantão
Nunca se dorme na hora
Nem fica sem munição

O índio que vem de fora
No quartel sempre se acerta
Sabe andar bem de a cavalo
De madrugada desperta
Tira serviço pros outros
Quando nos cobres se aperta
E se vai pra algum bochincho
Ninguém faz a descoberta

Já o rapaz da cidade
Dizem de papai é filho
É macio no caminhar
No olhar tem outro brilho
Sofre muito na instrução
Na marcha até perde o trilho
Anda pulando na cela
Pede socorro o lombilho

Boa vida tem compadre
No quartel o cassineiro
Não come o resto que sobra
Porque já comeu primeiro
Fica boleado de gordo
Que nem cusco de açougueiro
E coitado do milico
Que encrencar com o rancheiro

Tem cristão que acha bom
Lá é tudo padronizado
Desde o soldo até o arreio
Toda a roupa do soldado
Não tem rico não tem pobre
Fica tudo misturado
E o que é guapo vive bem
Encontra-se respeitado

Pra ser bom de ser soldado
É nunca se envaretar
Ser malandro e debochado
É melhor do que embrabar
"Levar tudo na esportiva"
É o jeito de driblar
Pois perde quem sai ganhando
Na hora que a parte entrar

É bom saber que lá dentro
O tratamento é sortido
Tem os bons, os mais ou menos
Os brabos, os provalecidos
Que se aproveitam do cargo
Para ser obedecido
Se o quera for retovado
Fica preso ou é detido.

Recordo o meu comandante
Dos sermões que ele pregava
Conselhos que não esqueço
Que todo mundo escutava
Falava as "vez" uma hora
E a gente só respirava
E qum não tinha preparo
No solaço desmaiava.

No esporte fui campeão
Pela seção de comando
Com o Osvaldo e o Dalpiva
O julio no meio armando
O pelé jogava sério
E o padeiro "mutreteando"
E eu petiço de arqueiro
A goleira ia fechando

Ganha bem pouco o milico
O soldo sai descontado
Paga o pito a roupa a folga
Vai pra algum baile enfeitado
Se encostar nalgum carinho
De a muito necessitado
Quando vem no outro dia
Os "pila" encurtou um bocado

Todo dia tem revista
E de tarde boletim
Todo mundo interessado
Escuta tim por tim tim
Pra ver se cai de serviço
Se escapar que bom pra mim
Quarta parte dá cadeia
Expulsão ou coisa assim

Foi em abril a prontidão
De uma "canha" precisava
E prenderam no portão
O goularte que levava
Três dias dobrei serviço
No alojamento cantava
Lembrando da namorada
Que lá fora me esperava

Fui soldado caprichoso
A mãe a farda engomava
Meus coturnos engraxados
A calça verde frisada
No bater uma continência
Até o boné se orgulhava
De ver um praça garboso
Que civismo transbordava!

Mas chegou o dito dia
Do tal de "pronto passar"
Todo o esquadrão em forma
Em frente dele marchar
No juramento sagrado
Uma vida pra lembrar
Ela hasteada soberana
Minha bandeira jurar

Ontem, hoje, juro sempre
Quando te ver tremular
Ou ao escutar nosso hino
A emoção me encilhar
Uma lágrima crioula
Em minha face rolar
É o patriotismo farrapo
Que está no sangue a pulsar.

Ponho minha mão no peito
Em cima do coração
Vejo no verde pampeano
Os campos do meu rincão
No amarelo, vejo ouro
No azul o céu deste chão
No branco paz e progresso
Simbolismo da nação.

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